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Projetos Residenciais

Residencial Vila do Bosque

LOCALIZAÇÃO

Sorocaba SP

DATA DA CONCLUSÃO

Em andamento

PROPOSTA

Residência encomendada por um casal de amigos, que na época não tinham filhos e exatamente no momento em que escrevo esse texto o filho deles nasceu. Trata-se de um casal jovem que por motivos profissionais, trocou Goiás por Sorocaba. Eles gostam muito de receber, tanto familiares, que vêm de longe, como amigos, além disso, o herdeiro já estava nos plano sendo assim, o pequeno apartamento do início do casamento não comportava mais seu estilo de vida.

O processo começou com a escolha do lote, foi interessante, pois pude ajudar nessa escolha, havia algumas opções na região desejada e na metragem que gostariam, certo dia escolhemos juntos, um lote de forma trapezoidal e com duas curvas na testada, um lote no fim da rua mais largo nos fundos do que na frente e isso determinou o partido e a implantação da construção, concentrando-a em uma das laterais, porém sem encostá-la na divisa, essa lateral configura um ângulo reto com o fundo deixando o formato irregular do lote para acomodar jardins, piscina, enfim as áreas descobertas. A curva da testada determinou também a curva da laje que “amarra” a fachada e configura a garagem de maneira fluida e elegante, alongando a volumetria, uma pequena referência à arquitetura barroca presente no Brasil no período colonial e também à Niemeyer, que sempre exaltava a sensualidade das curvas.

Os clientes queriam algo moderno, porém em nossas conversas iniciais, percebi uma tendência a gostar da volumetria de telhados e foi a partir deles que o projeto nasceu. Um volume central e monumental com duas empenas revestidas em pedra que organiza os demais volumes e águas do telhado que é relativamente simples do ponto de vista formal, porém com a brincadeira de alturas e larguras ele parece muito mais movimentado.

Há anos existe uma tendência de se exagerar nos vidros das fachadas, que são lindos, porém acabam recebendo enormes cortinas que permanecem fechadas a maior parte do tempo, seja por privacidade, seja pela orientação errada o que causa insolação excessiva, e com isso a beleza do vidro que é a transparência se perde, há tempos esse fato me incomoda e tenho tentado evitar essa “estética”. Neste projeto utilizei um pouco de vidro na fachada principal, porém com alguns tratamentos que evitam os “lençóis” fechados o tempo todo, ao lado da porta principal e em frente à escada utilizamos um “brise” de alumínio, remetendo aos cobogós e muxaribis, que permitem ver sem ser visto, na sala ao lado, temos o que chamo de “aletas” de concreto, que funcionam também como brises e devido à sua profundidade acabam também limitando a visualização do interior, entre essas aletas, janelas seteiras (estreitas e altas), também com o intuito de “ver sem ser visto”, essas janelas receberam persianas dupla-visão (A. Cortinas) que tem um efeito de transparência muito interessante, e como essas janelas promovem a ventilação da sala e precisam ser abertas, as persianas não ficam 100% do tempo fechadas.

A cor da fachada precisava ser forte, incialmente foi um azul escuro, passou por um marrom bem chocolate, outro mais discreto e manchado e por fim acabamos com esse tom alaranjado (cuia de chimarrão – Suvinil) que destacou muito a volumetria da construção, deixando-a alegre, viva, tropical o que combina muito com o tipo de telhado adotado e também com o jardim proposto pela paisagista (Ana Boso).

No térreo os ambientes são bastante integrados tanto entre si como com o exterior, essa é uma característica de nossos projetos, a construção cresce quando trazemos o exterior para dentro.

Esse projeto foi especial, pois tivemos a oportunidade de trabalhar tanto a arquitetura propriamente dita, como os interiores, no térreo como as salas são bastante integradas o projeto de interiores tinha que criar certa coerência entre os ambientes, trabalhamos com muita madeira que aquece e dá vida aos ambientes e para contrabalancear, utilizamos tons neutros de cinzas e off-white para a base (piso, paredes, sofá) e pontuamos com alguns elementos de cores marcantes como a poltrona estampada na sala de estar/TV (EADHome). O quadro com mandalas azuis (EADHome) foi paixão a primeira vista da proprietária, assim como uma mesa lateral azul e alguns objetos de cores marcantes.

Sob a escada, um painel em freijó (Lanzili móveis) disfarça a porta de correr do lavabo que fica quase imperceptível quando fechada, em frente a esse painel um móvel bar em laca preta brilhante com portas em freijó (Lanzili móveis e desenho do escritório) faz um contraponto À madeira e à rigidez das retas com seus cantos arredondados e abriga uma adega climatizada para guardar os vinhos que são certa paixão do casal. Falando em vinhos, ao chega à sala de jantar a parede que divide este ambiente da cozinha, ganhou duas torres em freijó que funcionam como cristaleira e adega de vinhos, abrigando 40 garrafas, taças e objetos decorativos, juntamente com as portas de correr que dão acesso à cozinha, configuram um pórtico bastante elegante (Lanzili móveis). A mesa em laca fosca numa cor “nude” e tampo de vidro (EADHome) é bastante elegante e discreta, as estampas das cadeiras (EADHome) trazem um ar descontraído para o ambiente, o lustre mais clássico (Meca Light) confere um ar sóbrio.
Ao lado do jantar tem um ponto bem interessante da casa, um espaço com pé-direito duplo, fechado com um vidro de 6m de altura com vista para o jardim e para a piscina, aqui a ideia sempre foi de um espaço para contemplação, momentos de bate-papo, talvez uma leitura, um vinho, etc., para tanto trabalhamos apenas com 2 poltronas grandes, altas e bem confortáveis em  conjunto com pufes da mesma linha (EADHome).

Embora Sorocaba não tenha um inverno rigoroso, junto ao enorme vidro, foi instalada uma lareira a gás, que na verdade é mais um ponto focal num momento de contemplação, para criar um clima num jantar mais formal.

Utilizamos também um tapete de pele que por ser irregular ajuda a contornar a rigidez das outras formas. A cozinha a pedido do casal deveria ser ampla, moderna e prática, a ilha em granito branco Siena, permite preparar pratos enquanto o papo rola solto, a área funcional é concentrada facilitando a vida do cozinheiro. O piso segue o padrão utilizado nas salas, um porcelanato amadeirado em tons de cinza (Aquarius), utilizar o mesmo piso faz com que os ambientes cresçam visualmente, os móveis (Lanzili) utilizaram um padrão marrom com textura de linho, com destaque para as portas em vidro espelhado bronze, a parede que concentra as áreas molhadas, recebeu pastilhas de vidro vermelhas com algumas peças em inox contribuindo para um clima mais descontraído e diria até ousado.

Externamente mais ainda coberta a área gourmet, essa sim se mostrou o “coração” da casa, com churrasqueira, fogão à lenha e um cooktop, nos dias e noite quentes do verão onde a casa foi inaugurada, foi ali que aconteceram as reuniões citadas no início. Essa área tinha que ser alegra também, o piso mudou em relação o interno, aqui devido à proximidade da piscina utilizamos um porcelanato mais rústico (Aquarius), porém mantendo a tonalidade neutra, assim como novamente o granito branco Siena aparece como elemento discreto, as paredes novamente recebem algo mais alegre e de destaque, o porcelanato Lisboa (Aquarius) com padrão de ladrilhos confere um colorido bem aconchegante ao espaço e já que os proprietários estavam empolgados e topando cores vivas o vermelho “goiabada” (Suvinil) entrou ao redor dos “ladrilhos” destacando-os, assim como o volume que abriga o banheiro externo e o depósito, que por isso perderam aquela cara de “puxadinho” meio sem resolver comum em algumas construções, além disso, mostra que cores intensas e escuras podem ser usadas sem medo que não necessariamente “fecham” o ambiente, elas criam profundidade e destacam o que estiver na frente, como quadros, objetos, detalhes de revestimento, etc.

Como dito antes, o lote era irregular e a área do jardim tem uma forma triangular, configurando um canto com um ângulo bem obtuso, esses cantos podem ser problemáticos, porém recebem bem formas curvas, pois possibilitam utilizar as tangentes das linhas q partem do vértice, então somando isso ao fato que havia espaço, a piscina ganhou uma forma curva, bem orgânica, que lembra as enormes piscinas de resorts, era esse o clima pretendido ali fora, ela inicialmente receberia pastilhas, mas no desenrolar da obra a opção final foi a lona vinílica, que resolve muito bem e se adapta a qualquer forma. No piso do solário foi utilizado um piso atérmico de concreto, de 1x1m, (Cimartex) nas grelhas de drenagem em vez do tradicional ralo, utilizamos pisos drenantes (Cimartex), pisos bastante porosos e muito eficientes na drenagem. Junto a isso um deck de madeira coberto com um pergolado também em madeira, para momentos de descontração reservados em grupo, esse deck esconde a casa de máquinas da piscina e também uma cisterna de reaproveitamento de água de chuvas.

O pavimento superior abriga as suítes, são 3 no total e mais uma sala chamada de multiuso, pois pode ser uma sala de TV pequena ou um quarto para hóspedes. A suíte do casal merece maior destaque, ela possui um closet no acesso (Lanzili) com portas em MDF laminado e espelhos, no dormitório propriamente dito o papel de parede da cabeceira com efeito tridimensional destaca a cabeceira estofada e os criados com pés-palito (Lanzili). Os pendentes sobre os criados (Meca Light) criam um efeito de luz bem interessante quando acesos. Ao lado da cabeceira duas janelas seteiras trazem mais luz e ventilação cruzada para o ambiente e quando a ideia é escurecer as persianas (A. Cortinas) entram em cena. O banheiro da suíte é bem espaçoso, ganhou uma divisória em cobogós cerâmicos (Aquarius) que disfarça o visual do vaso para quem entra, sem prejudicar o acesso nem a luminosidade. A bancada em mármore marrom imperial é o destaque e recebe duas cubas e um gabinete funcional, sem muita firula, o revestimento de grande formato tem textura muito fiel de mármore Daino Reale (Aquarius), poucos reajustes conferem um ar mais sofisticado e uniforme ao espaço, na parede do box, buscando a cor da bancada e criando profundidade, temos um porcelanato amadeirado bem escuro, envelhecido (Aquarius).

Assim como na hora de projetar, estava esquecendo-me do lavabo, sempre ele, ali escondido sob a escada pelo painel em freijó, o pequeno ambiente permitiu o uso de materiais mais ousados, o papel de parede com textura ondulada e tonalidade escura cria um efeito tridimensional que varia com a iluminação e a movimentação, temos um espaço dinâmico, que muda com o deslocamento e o ponto de maior destaque fica por conta da pedra em mármore vermelho com cuba esculpida, solução inteligente para espaços exíguos.

Depois de todo este texto, finalizo por aqui e destacando que foram utilizadas esquadrias pretas de alumínio (Aluvidros), algo que há tempos tento utilizar, mas que também enfrentam uma enorme resistência. Esse foi um projeto de muitas experimentações e de uma sinergia muito bacana entra a arquitetura e os moradores. VOLTAR